Documentário expõe impactos negativos e violações de direitos nas comunidades rurais afetadas pela implantação de parques eólicos
“A gente só tem duas opções, que é: ou a gente sai do lugar da gente ou as eólicas saem. E a gente sabe que as eólicas não vão sair. Então, infelizmente, a gente vai ter que sair do local que a gente escolheu pra viver”. Roselma de Melo mora há dez anos na comunidade de Sobradinho, localizada no município de Caetés, no agreste pernambucano. Há oito anos a família da agricultora é uma das 170 que convivem com os aerogeradores há cerca de 100 metros de distância das suas casas.
Denúncias de problemas de saúde como ansiedade e insônia devido ao barulho causado pelos geradores é uma das queixas de Roselma. Sua denúncia e de outros moradores sobre os danos causados às comunidades camponesas pelas usinas eólicas na região estão no documentário Vento Agreste.
O filme é uma produção da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em parceria com o Instituto Mãe Terra, com a equipe de Residência em Saúde coletiva e agroecologia da Universidade de Pernambuco (UPE) e com o Fundo Casa Socioambiental para apoiar a luta pela reparação dos direitos violados dos agricultores.
João Paulo do Vale que é agente da CPT e foi diretor e roteirista do documentário, destaca que o filme foi uma forma de alcançar ainda mais pessoas com o trabalho de denúncia que já vinha sendo feito.
“A gente começou a tentar fazer intercâmbio, pra gente levar pra grupo de pessoas, pra comunidades afetadas pra elas sentirem, perceberem o que estava acontecendo. Isso tem funcionado muito bem porque algumas comunidades que estavam ainda em dúvida se era a favor quanto do parque ser instalado no seu território, faz o intercâmbio e ela já vira a chavinha e percebe ‘não isso aqui não faz sentido pro nosso território'”, destaca.
As gravações de Vento Agreste foram realizadas entre os meses de julho e outubro de 2022, a partir da atuação das organizações envolvidas em atividades de escuta, registro, formação e acompanhamento dos casos de violações de direitos causados pelas usinas eólicas.
O documentário aborda também o papel de denúncia que a comunidade assumiu desde a instalação. E será possível conferir no Youtube da Comissão Pastoral da Terra NE 2 a partir de março.
Agora, os moradores desejam apenas que ninguém passe pela mesma situação, é o que afirma Roselma, que vê o documentário como um alerta.
“É um modo da gente poder desabafar. Toda vez que a gente conversa com alguém, que a gente fala o que aconteceu com a gente para mostrar para aonde não tem, para não ser enganado como a gente foi, que a gente não teve a opção de escolher se vai querer passar pelo que a gente está passando ou não.”
Fonte: BdF Pernambuco
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