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Justiça Federal autoriza associação do Recife a plantar e usar cannabis para fins medicinais

18 nov 2021|Postado em:RECIFE

 

No Brasil, milhares de pacientes utilizam medicamentos à base de cannabis para algumas doenças — Foto: Getty Images/BBC

Decisão judicial beneficia 106 pacientes atendidos pela Amme Medicinal que usam substância extraída da maconha para tratar pessoas com autismo, fibromialgia, epilepsia e convulsões.

A Justiça Federal em Pernambuco (JFPE) autorizou a associação Amme Medicinal, do Recife, a plantar e usar cannabis, planta conhecida como maconha, exclusivamente para fins medicinais. Na decisão judicial, a juíza federal Joana Carolina Lins Pereira, da 12ª Vara da JFPE, informou que o pedido de tutela de urgência foi concedido para atender pacientes já associados.

A liminar é do dia 15 de novembro e cabe recurso. Ela beneficia 106 pessoas atendidas pela associação pernambucana que usam uma substância extraída da cannabis para tratar fibromialgia, autismo, mal de Parkinson, demência, epilepsia, dor crônica e convulsões, entre outros problemas.

“Essa decisão é uma validação do nosso trabalho. A gente está construindo isso há mais de três anos, provocando audiência pública, visitando Ministério Público e mostrando o nosso trabalho”, afirmou o presidente da Amme Medicinal, Diogo Dias (veja vídeo ).

Apesar de o uso medicinal da maconha estar previsto em uma lei aprovada em 2006, a juíza federal ressaltou que a falta de regulamentação levou a recentes decisões judiciais autorizando pacientes a cultivar cannabis para tratar diversas patologias.

“Também foram mencionados precedentes jurisprudenciais que têm concedido habeas corpus para que pessoas físicas possam cultivar a cannabis, sem incorrer em atividades ilícitas, desde que destinada a fins exclusivamente medicinais”, declarou a juíza, na decisão.

Além dos habeas corpus preventivos para cultivo caseiro, outras duas associações de pacientes no Brasil já conseguiram autorização, por liminar, para cultivar e produzir remédios para seus associados. Uma terceira associação conseguiu um habeas corpus coletivo (veja mais abaixo).

Sede da Justiça Federal em Pernambuco fica no bairro do Jiquiá, no Recife — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Sede da Justiça Federal em Pernambuco fica no bairro do Jiquiá, no Recife — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Outro argumento citado é de que a decisão evita que ações judiciais sejam movidas para fornecimento do medicamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), onerando os cofres públicos. A juíza também lembrou que medicamentos à base de canabidiol só existem no mercado “nas versões importada ou fabricada com insumos importados, em preços não acessíveis à maior parte dos que deles precisam”.

Ela destacou, ainda, que a Lei 11.343, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), já estabelece que “a União pode autorizar o plantio, a cultura e a colheita […] exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização”.

Para evitar a utilização indevida da cannabis, a juíza pediu que a Amme Medicinal adote todas as medidas necessárias para evitar a utilização indevida da planta e do extrato fabricado a partir dela.

Por isso, a associação deve manter o cadastro dos pacientes beneficiados, receituário prescrevendo o uso de produto à base de cannabis e laudo demonstrando se tratar de caso para o qual já foram tentados, sem sucesso, todos os tratamentos registrados, além de informações da quantidade de óleo recebida e das datas de cada entrega.

Associações pernambucanas

 

As associações pernambucanas Acolher, Aliança Medicinal e Cannape reúnem documentos para tentar na Justiça a autorização para plantar e cultivar cannabis. Também há o Coletivo Mães Independentes, formado por cinco mães de pacientes que conseguiram autorização individual para cultivar a planta e tratar os filhos.

A associação Aliança Medicinal existe desde dezembro de 2020 e atende mais de 100 pacientes. A presidente da associação, Hélida Lacerda, é mãe de um paciente que tem 18 anos e faz tratamento com canabidiol há cinco deles. O filho dela tem deficiência intelectual e epilepsia.

“O tratamento com canabidiol que ele faz há cinco anos ajudou muito. Ele tinha 80 convulsões por dia todo e hoje ele passa dois meses sem crise. Quando tem, são quatro. Agora ele tem qualidade de vida. Só sabe quem tem uma pessoa em casa que precisa”, afirmou Hélida.

 

Fabrina Juliana comprovou os benefícios do óleo canabidiol após o filho, Arthur, ser diagnosticado com autismo moderado — Foto: Reprodução/WhatsApp

Fabrina Juliana comprovou os benefícios do óleo canabidiol após o filho, Arthur, ser diagnosticado com autismo moderado — Foto: Reprodução/WhatsApp

Fabrina Juliana é fundadora da Cannape. O filho dela, Arthur, de 7 anos, foi diagnosticado com autismo moderado e começou a melhorar depois de 15 dias utilizando o óleo canabidiol, conforme relatado pela mãe da criança.

A associação criada por ela atende, em média, 300 pacientes e luta contra a dificuldade de ter acesso ao remédio que mudou a vida do filho de Fabrina e de outros pacientes.

“Essa decisão é uma conquista de todos. É a esperança de que as outras associações do estado tenham a mesma possibilidade e mais pacientes sejam beneficiados”, disse Fabrina.

 

Com mais de 250 associados, a Acolher conseguiu reunir a documentação necessária para a solicitação à Justiça. De acordo com o diretor da associação, o psicólogo Cleber de Carvalho Spier, a decisão que beneficia a Amme é um avanço para todos os grupos.

“A gente foi surpreendido de forma bastante positiva. A partir do momento que você tem uma liberação na Justiça, você tem precedente. A gente quer ter direito ao cultivo, é para isso que as associações lutam”, disse Cleber.

Associações que cultivam

 

Além dos habeas corpus preventivos individuais, a Justiça já autorizou duas associações de pacientes a cultivar cannabis no Brasil: a Abrace Esperança, na Paraíba, e a Apepi, no Rio de Janeiro. E há outras pleiteando a mesma decisão.

A Abrece conseguiu autorização em 2017. Ela produz medicamentos para 3 mil pacientes de epilepsia, mal de Parkinson, mal de Alzheimer e autismo.

Já a Apepi, que tem mil associados, entrou na Justiça Federal em setembro de 2019, e teve parecer favorável do Ministério Público Federal (MPF) e apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A decisão permitindo o plantio saiu em julho de 2020.

Além delas, a Cultive, uma associação de São Paulo que reúne pacientes que fazem tratamentos à base de derivados da maconha, obteve o primeiro habeas corpus coletivo do país que inibe a prisão de seus associados após cultivo da planta.

Fonte: G1 PE

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