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Lições da História que vai ao ar pela CBN Recife com Evaldo Costa

26 jan 2020|Postado em:RECIFE

O RECIFE NO MAPA DO XADREZ MUNDIAL

No ano de 1978, o Recife ganhou um lugar de destaque no mapa mundial do xadrez. O escritor Raimundo Carrero que, na época, ainda não havia alcançado o reconhecimento literário que possui hoje, trabalhava como repórter especial do Diário de Pernambuco e viu de perto isso acontecer.

Na manhã do dia 27 de novembro de 1978, ele estava na redação do jornal quando entra um grupo de pessoas, das quais ele só conhecia uma, vagamente.

Entre os visitantes havia um estrangeiro. Feitas as apresentações, Carrero descobriu que o estrangeiro era o ex-campeão mundial de xadrez Boris Spassky, nascido na União Soviético e que há pouco tempo assumira a cidadania francesa.

Imediatamente, Carrero o tomou pelo braço e levou à sala ao lado, onde trabalhavam ferozmente os telexes e as máquinas de teletipo que traziam as notícias do mundo inteiro.

“Aqui nos conhecemos e nos tornamos amigos”, disse Raimundo Carrero, ante o espanto de todos e acrescentando que conheceu à distância. “De xadrez eu não entendia muito, mas de tanto acompanhar, fiquei íntimo e virei seu e admirador do esporte.”

Ele foi encarregado de selecionar e editar as matérias produzidas pelas agências internacionais que cobriram a decisão do título mundial de xadrez de 1972, disputada em Reykjavik, na Islândia. e, por este meio, acompanhar diariamente as partidas.

De 11 de julho e 31 de agosto de 1972, foram quase dois meses de trabalho, procurando entender e buscando informar bem os leitores.

Naquela época o xadrez tinha muito mais repercussão do que vemos hoje. Onde Spassky, mesmo passados aqueles anos, ainda era recebido com o mesmo entusiasmo.

Entre os anos 1940 e 1980, por força da Guerra Fria, que dividia o mundo em dois grandes blocos, um liderado pelos Estados Unidos e outro pela União Soviética. E o xadrez era a modalidade no centro desta disputa.

Pode-se dizer que a final de 1972 colocou, frente a frente, um bloco contra o outro. De um lado, o russo Spassky, o campeão mundial; do outro lado, o norte americano Bobby Fischer, o desafiante.

Ganhou Fischer, de forma quase improvável, pois o domínio dos soviéticos era absoluto. Desde 1927 até 1972 foram realizadas 10 disputas e os soviéticos só haviam perdido uma. Em várias delas, aliás, estiveram frente a frente dois soviéticos. Foi assim em 1969, quando Spassky tirou o título das mãos de Tigran Petrosian.

No Recife não era diferente, como o entusiasmo de Carrero demonstrava. Luiz Tavares, médico, presidente do Clube de Xadrez do Recife, da Federação Pernambucana e da Confederação Brasileira, foi fundamental para o cenário nacional do xadrez.

Luiz Tavares, que foi também campeão brasileiro de xadrez, ajudou Mequinho, Henrique Mecking, a alcançar a terceira colocação do mundo, em 1977.

Spassky veio ao Recife para participar, no dia 29 de novembro de 1978, de um evento histórico: uma simultânea de xadrez na qual enfrentaria 30 jogadores, os melhores do Nordeste.

O local escolhido foram os seletos salões do Clube Internacional do Recife. Em reportagem de página inteira, publicada no Diário de Pernambuco, o enxadrista Antônio Tumajan descreveu o início do match afirmando que Spassky parecia um leão cercado por caçadores.

Pois o leão se deu muito bem: derrotou 22 ”caçadores”, empatou com sete e perdeu para apenas um, o paraibano Expedito de Medeiros, hoje um médico conceituado em Campina Grande. Empataram, entre outros, Roberto Antunes, Marcelo Urquiza, Fernando Daher.

Todo mundo sabe que o xadrez é a ginástica da mente. Quem malha para ter barriga de tanquinho deveria jogar xadrez para ter um cérebro igualmente merecedor da admiração.

Na verdade, todos deveríamos jogar mais. Há um movimento de retomada na cidade, o xadrez escolar do Recife, em competição no Museu Cais do Sertão, chegou a reunir 200 crianças e 40 colégios, em 2019.

Passado o furor da Guerra Fria, todo esse calor arrefeceu. Mas a política largou de vez o esporte? Que nada! A protagonista da vez é a China, que vem investindo recursos estatais ferozmente para dominar o cenário mundial.

O atual campeão mundial é um norueguês chamado Magnus Carlsen. Mas entre os desafiantes ao título, que será disputado em dezembro, há um chinês chamado Ding Liren apontado por oito em dez especialistas como favorito.

Entre as mulheres a chinesa Hou Yifan lidera o ranking mundial desde 2015 e a ameaça que sofre é justamente de outras chinesas. Ou seja, a política continua impulsionando esse esporte tão especial.

Ouça aqui: https://www.cbnrecife.com/podcast/licoes-da-historia

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