Publicidade


Rotina quase normal em algumas cidades. Em Pernambuco, Noronha é exemplo

3 jul 2021|Postado em:Notícias

 

Com mais de 95% da população adulta vacinada com a primeira dose, Noronha respira aliviada – Foto: Divulgação

Apesar de a imunização contra a Covid-19 correr a passos lentos no país, várias cidades têm vida semelhante à de antes da pandemia graças à imunização em massa

Quase sete meses após o Reino Unido se tornar o primeiro país do Ocidente a vacinar contra a Covid-19, vários locais do mundo experimentam as vantagens da imunização em massa de sua população. Se de um lado ainda há quem insiste em questionar o poder salvador dos imunizantes, do outro tem os que comprovam na prática os benefícios da proteção. No Brasil, apesar de a vacinação ainda seguir a passos lentos (até agora apenas 13% dos brasileiros tomaram as duas doses ou dose única), moradores de algumas cidades já levam uma vida semelhante à que se tinha antes da pandemia do novo coronavírus.

Em Serrana, cidade no interior de São Paulo, a pandemia começou a ser controlada quando 75% do público alvo foi vacinado com duas doses da Coronavac, por meio do Projeto S, coordenado pelo Instituto Butantan. Entre fevereiro e abril, com 95% dos habitantes acima de 18 anos protegidos pela Coronavac, a pesquisa científica inédita mostrou quedas significativas de 95% em mortes, 86% de internações e 80% em casos sintomáticos de Covid-19 no município. E isso aconteceu enquanto as cidades da região enfrentavam picos da infecção. A imunização gerou uma espécie de cinturão imunológico em Serrana, reduzindo drasticamente a transmissão do coronavírus no município

A prova da imunidade de rebanho em Serrana é que os casos caíram mesmo em quem não pôde receber a vacina, como as crianças. Enquanto cidades vizinhas precisavam lidar com colapso na saúde e escalada de casos e mortes, os moradores de Serrana encaravam com otimismo a flexibilização das atividades econômicas e sociais. De acordo com o prefeito Leonardo Capitelli, a pandemia está controlada no município. “Estamos ainda com algumas restrições, diminuição de fluxo em algumas atividades, mas praticamente tudo na cidade já funciona normalmente, inclusive as aulas presenciais. Estamos podendo voltar ao novo normal”, disse o gestor.

Apesar dos dados positivos da vacinação em Serrana, ainda é preciso seguir alguns protocolos para garantir o controle da doença, de acordo com Capitelli. “Continuamos com todo trabalho de orientação, vigilância sanitária e epidemiológica. Mesmo todos imunizados orientamos no sentido de manter o distanciamento social, o uso da máscara e boa assepsia das mãos com água, sabão ou álcool, para que a gente possa, aliando à vacinação e protocolos sanitários, vencer essa guerra contra a Covid-19”, falou o prefeito, ressaltando que o município agora deve servir de de apoio e parâmetro de protocolos para o resto do Brasil na retomada econômica, social e educacional.

Botucatu com mais da metade da população imunizada
Um estudo semelhante está sendo realizado com a vacina de Oxford/AstraZeneca, em Botucatu, também em São Paulo. Seis semanas depois da vacinação em massa da população entre 18 e 60 anos, a cidade registra redução de 71% nos casos de Covid-19. Mais da metade da população, cerca de 78 mil pessoas foram imunizadas com a primeira dose. A segunda aplicação deve começar a ser feita no mês de agosto. De acordo com a Prefeitura de Botucatu, a média de novos casos passou de 141 registros por dia para 40. Além disso, os indicadores de internação também caíram cerca de 46%. Produzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o imunizante tem 90% de eficácia contra mortes.

Segundo a médica Sue Ann Clemens, coordenadora dos centros de pesquisa da vacina de Oxford-Fiocruz no Brasil e também do estudo em Botucatu, um dos objetivos da pesquisa é saber o quanto o imunizante influencia na diminuição da transmissão viral. “Vamos sequenciar tudo e ver a efetividade da vacina entre diferentes cepas. A nossa vacina é a primeira que mostra proteção com uma e duas doses em até um ano. É interessante dar um reforço? Depende. Em uma situação pandêmica é interessante porque variantes estão aparecendo. Como a vacina mesmo com uma dose tem proteção até um ano a gente pode aumentar os intervalos caso necessário de três meses para seis meses ou até dez meses”, explicou.

De acordo com a Secretaria de Saúde da cidade, em cinco semanas de imunização já houve uma redução de mais de 60% dos casos sintomáticos de Covid-19. Sue Ann Clemens informa que a previsão para aplicar a segunda dose na população de Botucatu é em agosto. Ainda segundo a médica, que também é professora da Universidade de Oxford, pretende-se acelerar os resultados da pesquisa porque eles são importantes para estratégias de saúde pública e a nível internacional. “Porque a maior parte da variante P1 circula no Brasil e várias cepas da América Latina estão aparecendo e já temos elas circulando no Brasil”, comentou a diretora do Instituto para a Saúde Global da Universidade de Siena, na Itália.

Noronha volta a respirar aliviada
Em Pernambuco, Fernando de Noronha é a primeira localidade a ter mais de 95% da população adulta vacinada com a primeira dose. A segunda dose da vacina para todos os moradores que foram vacinados durante mutirão realizado no mês de junho será aplicada em setembro. Um novo esquema de vacinação em massa será montado para atender a todos, evitando aglomerações na unidade de saúde. Restam agora os remanescentes, como os que não puderam comparecer à iniciativa ou que estão no continente. Aos poucos, a ilha vai retomando as atividades e o turismo, principal fonte de renda dos moradores, voltando a respirar.

O administrador da ilha, Guilherme Rocha, afirma que cerca de 30% da população de Noronha já tomou a segunda dose da vacina contra Covid e a perspectiva é de chegar a 50% até o final de julho. “Já sentimos o efeito da vacina e já é notável uma queda vertiginosa no número de casos de Covid na ilha. Para se ter uma ideia, em janeiro chegamos a ter 80 pessoas em quarentena. Hoje, estamos com uma média de 15 na Ilha toda e recentemente chegamos a zerar.”, disse. Ainda de acordo com Rocha, um comitê científico está discutindo como será a retomada das atividades após todos de Noronha aplicarem as duas doses dos imunizantes.

“Estamos trabalhando em qual será o próximo protocolo para na primeira quinzena de julho poder lançar com maior flexibilidade as medidas na ilha. Hoje temos restaurantes funcionando até às 22h de domingo a domingo. Festas e músicas nos bares continuam proibidos, mas temos a perspectiva de liberar o trabalho dos músicos na próxima fase de flexibilização das medidas”, falou o administrador. Segundo Rocha, desde a reabertura do turismo no arquipélago estão sendo observadas ilhas ao redor do mundo, como Curaçao e Aruba, no Caribe, Seychelles, país no meio do Oceano Índico formado por 115 ilhas, que tiveram protocolos específicos, para ajuda a embasar cientificamente as ações em Noronha.

Em audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na última terça-feira (29), o secretário estadual de Saúde, André Longo, afirmou que Pernambuco espera vacinar toda a população adulta com a primeira dose do imunizante contra Covid-19 até setembro. Já a aplicação da segunda dose em todos os adultos deverá ser feita até dezembro deste ano, segundo Longo. “Essa é a nossa expectativa, caso se mantenham as entregas. Se houver aceleração das entregas, pode ser que acelere esse processo também de vacinação e se consiga fazer antes”, explicou o secretário aos deputados estaduais. Em Pernambuco, apenas 15% das pessoas com 18 anos ou mais aptas a receber a vacina aplicaram as duas doses ou dose única.

Países vacinam maior parte de suas populações 
Diferentemente do Brasil, nações de todos os continentes já conseguiram vacinar a maior parte da população. Na América do Sul, entre os países que mais vacinaram pessoas com duas doses estão o Chile (mais de 63% da população) e o Uruguai (mais de 35%) que, ainda assim, enfrentam números elevados de casos da doença. O Chile, que se tornou referência por ter implementado um dos processos de imunização mais bem-sucedidos contra a Covid-19 no mundo, enfrentou uma onda de casos por várias semanas que elevou a ocupação de leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Para evitar a propagação do vírus, o estado de alerta sanitário foi estendido até 30 de setembro.

O chileno Nicolas Ruiz, 34, conta que o seu país começou priorizando grupos prioritários, como profissionais da saúde e professores, em seguida passou a imunizar os idosos. “Mas teve muitas pessoas que não foram se vacinar por achar que a vacina é algo ruim, mas a maioria da população procurou a imunização”, disse. O problema é que quando chegou a vez dos mais jovens a procura foi baixa, segundo Ruiz. Ele explica que, para incentivar essa parcela da população, o governo adotou um passe de mobilidade. O documento permite que pessoas imunizadas com as duas doses contra a covid-19 tenham liberdade de circulação tanto dentro de suas cidades quanto viajar para outras regiões do país. Ainda assim, todos devem continuar usando máscara e mantendo o distanciamento social.

O infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, ressalta que avançar com a vacinação não significa relaxar as medidas preventivas contra a doença, como distanciamento social e uso de máscaras. Ele explica que para endurecer ou flexibilizar as atividades econômicas deve-se levar em consideração as taxas de transmissão do coronavírus. “Claro que o número de imunizados vai colaborar para a queda na taxa de transmissão, mas a vacinação é apenas um dos instrumentos de diminuição desse indicador. O fator que deve nortear o relaxamento são as taxas de transmissão e não o uso das vacinas”, explicou.

De acordo com o infectologista, ainda é prematuro afirmar se será necessário tomar a vacina contra Covid-19 todos os anos, como alguns especialistas têm cogitado, pois não há estudos que comprovem algo. Para chegar a esta resposta será preciso considerar o tipo da vacina, o intervalo entre as duas doses e as variantes. “Não tem previsão. Cada vacina é diferente. Não se sabe quanto tempo durará a proteção de cada uma delas. Além disso, será preciso levar em consideração cada cepa que aparecer, com que frequência aparecerão e com que magnitude escaparão da eficácia dos imunizantes. Quem ousar fazer previsão de revacinação está dando um belo chute”, comentou.

Questionado se o avanço da imunização da população adulta contra o coronavírus pode refletir negativamente entre crianças e adolescentes, o diretor da SBIm foi taxativo. “Não há indicação nenhuma que os mais jovens vão sofrer à medida que os mais velhos sejam imunizados”, falou. A expectativa é que, depois de vacinar os adultos, todas as crianças e adolescentes, que representam um quarto da população, também sejam imunizados para que possam contribuir com o controle da transmissão. “Dias melhores podemos vislumbrar, mas estamos longe disso. Em cinco meses de campanha, apenas cerca de 13% dos brasileiros receberam as duas doses. Estamos vacinando aos pingos”, comentou.

 

Fonte: Folha de Pernambuco

Compartilhe:

Deixar uma resposta


You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*


%d blogueiros gostam disto: