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‘Não representa só a mim’, diz babalorixá Ivo de Xambá sobre título de Doutor Honoris Causa concedido pela UFPE

23 jul 2021|Postado em:RECIFE

O babalorixá Ivo de Xambá, da Nação Xambá, em Olinda, recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) nesta sexta-feira (23). “Não representa só a mim, representa as religiões de matriz africana do estado e do país […] Isso para mim é uma questão de resistência”, disse sobre a honraria.

O título é uma das maiores honrarias concedidas por universidades em todo o mundo e foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Universitário, conforme informou a instituição. Pai Ivo de Xambá, de 67 anos, é o primeiro representante de religião de matriz africana a ter esse reconhecimento acadêmico em Pernambuco.

A cerimônia de entrega do título acontece às 10h no salão nobre da Faculdade de Direito do Recife, no bairro da Boa Vista, na área central da capital pernambucana. Devido à pandemia da Covid-19, a presença de convidados foi restrita, mas há transmissão da solenidade pelas redes sociais da UFPE.

Filho de Oxum, Pai Ivo de Xambá fundou o Memorial Severina Paraíso da Silva, em homenagem à mãe do babalorixá, Biu de Xambá, que faleceu em 1993. O espaço reúne artefatos religiosos do candomblé e pertences da yalorixá que, por mais de 50 anos, manteve o quilombo e sua herança cultural.

Segundo o historiador Hildo Leal, esse foi o primeiro museu criado em uma comunidade de terreiro em Pernambuco. “É através desse terreiro que a gente divulga a nossa história. […] Essa casa tem um passado de resistência e de preservação da nossa cultura Xambá. Ivo vai abrir essa casa para o mundo, para a universidade, para os estudantes”, declarou.

Segundo Ivo de Xambá, que tem o nome de batismo de Adeildo Paraíso da Silva, foi a partir de 1993 que ele passou a se envolver cada vez mais com as atividades culturais e religiosas do local.

“Eu nasci junto do orixá. Agora o momento que eu senti que o orixá me convidou para fazer esse trabalho foi no momento da partida de minha mãe, em 1993. Porque aí eu me doei mais, aí eu comecei a fazer um trabalho mais importante da casa”, contou Pai Ivo.

O ponto cultural e de resistência negra fica ao lado do terminal de ônibus de Xambá, no bairro de São Benedito, em Olinda. Em 2006, o Ministério da Cultura reconheceu a comunidade do Portão do Gelo, onde fica o terreiro, como o terceiro quilombo urbano do Brasil. O local acumula décadas de espiritualidade e de luta contra o preconceito.

“O racismo não é só em você dizer que eu sou negro não. O racismo está na maneira que o cidadão é tratado. Nós normalizamos o racismo e ainda precisa-se transformar muito para ter uma sociedade igual, para ter uma sociedade justa”, afirmou Pai Ivo.

 

De acordo com a professora Auxiliadora Martins da Silva, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino, do Centro de Educação da UFPE, a honraria representa a possibilidade de avanços nas políticas de educação. Foi ela quem sugeriu à universidade o título para Pai Ivo.

“Reconhecer essa produção de conhecimento realizada nesse espaço e sob a liderança do Ivo colabora para que a gente possa estar implementando uma educação das relações étnico-raciais”, disse.

Fonte: G1 

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